3 de fevereiro de 2015

Crise hídrica impacta empregos e preços

A Região Sudeste do Brasil está passando por seu mais severo e extenso período de seca já registrado em 80 anos. Antes a seca parecia ser um problema restrito ao estado de São Paulo, o mais industrializado e populoso do país, e a sua capital. Agora sabemos que a estiagem afeta também os estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais que detêm, respectivamente, a 2ª. e a 3ª. maiores participações no Produto Interno Bruto brasileiro.

A escassez de água não é propriamente uma novidade. É uma questão conhecida e que foi prevista e alertada por especialistas do setor hídrico. Desmatamento das matas ciliares e consequente assoreamento dos rios e de suas nascentes, ocupação desordenada das áreas de mananciais e poluição dos rios e das represas têm contribuído para o esgotamento das fontes de água. Essas questões vêm se agravando ao longo dos anos e são negligenciadas pelos governos. 



Outro fator importante para o agravamento da escassez de água é o alto índice de perda nas próprias redes de distribuição, estimado na média nacional em 37,5% segundo o Instituto Trata Brasil. A explicação, em boa parte, está nas tubulações antigas e mal conservadas, por onde a água escorre sem controle. Com desperdício tão elevado, as companhias de abastecimento acabam retirando do ambiente mais água do que realmente é necessário. Tamanho desperdício de água tratada representa uma perda de mais de R$ 10 bilhões por ano, segundo estudo do Instituto Trata Brasil e da Universidade de São Paulo, piorando a escassez hídrica e dificultando novos investimentos em abastecimento e saneamento.

A falta de água certamente produz um impacto negativo na saúde da população. Porém, analisemos aqui as consequências da séria crise hídrica do ponto de vista das atividades produtivas e que acabam por agravar a qualidade de vida de todos nós. De acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP já estaria ocorrendo um êxodo de empresas do estado para outras regiões do país devido à crise hídrica. Parte da produtividade que o setor industrial tem no estado de São Paulo se dá justamente por conta da água. Os setores mais afetados pela crise hídrica seriam os de alimentos, bebidas, têxtil, papel e celulose, e o químico, segundo a FIESP. Não por acaso, duas grandes empresas do setor de bebidas – Ambev e Coca-Cola – levaram para fora de São Paulo investimentos de R$ 2,4 bilhões em novas plantas industriais. Portanto, onde há menos água, há menos empregos e preços mais caros.

É preocupante o resultado de pesquisa recentemente realizada de que mesmo com a crise hídrica, 95% das indústrias, empresas, hospitais e hotéis do estado de São Paulo não têm plano de contingência para falta de água. Segundo a Fiesp, os 42 projetos de conservação e reuso de água do setor industrial na região da Grande São Paulo geram economia de 10 milhões de litros de água por ano, o equivalente a apenas 1% da vazão do sistema Cantareira no mesmo período. O valor representa menos de 5% da demanda anual do setor na mesma região. Isso atesta que as empresas que dependem das companhias de abastecimento terão suas operações comprometidas com o provável racionamento de água.

Diante desse cenário, as empresas precisam integrar a água em suas estratégias de negócios e estabelecer metas de ajustes para reduzir o consumo desse já escasso recurso. Aquelas que não o fizerem podem rapidamente encontrar-se em desvantagem competitiva, com prejuízo à sua imagem, redução de valor para o acionista e comprometimento da sua própria perenidade. Ficou para trás o tempo onde a água era tida como bem abundante e infinito. 

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